terça-feira, dezembro 07, 2004

Eu quero fazer uma música que não tenha versos. Pois não mais preciso das palavras, ah, essa maldita simbologia que inventaram pra tentarmos colocar em papéis o que sentimos. Não quero dizer, não quero mais nem mesmo ouvir a minha voz, ela não é mais necessária. Quero sim entender o que diz o olhar, a interpretação subliminar do que transparece a alma e transcende o corpo.

Quero gritar, mas minha voz não sai. Tento inutilmente colocar em folhas de papel, em palavras o que se passa na minha cabeça perturbada. Mas não, não é mais necessário, nada mais que a expressão, os olhos, a cara deslavada. O meio termo já não existe mais e somos todos telepatas.

Quero viver, quero voar sobre este céu cheio de antenas de rádio e rir de todos, quero sentir de longe o cheiro da gasolina que não me é mais necessária, dos sapatos que não mais uso, a velha luz branca do escritório agora deu lugar à intensa luz do Sol. Quero me fazer entender, mas não por estas roupas sociais tão inúteis, não pelo toque do telefone ou pela mensagem do e-mail, pois não mais preciso das leis antiquadas da Física. Einstein, Tesla, Newton, estão todos mortos!

Eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência. E me fiz livre, e vejo sua face daqui do alto, e nos entendemos. Você me pede pra esperar, mas não há tempo, eles te aprisionam. O que espera pra voar, percorrer o céu infinito sem gravidade? E, depois do vôo acima dos Boeings que viajam a 1000 km/h, descermos e apreciarmos a simplicidade do sorvete, das asas dos pássaros, a leveza das águas que insistem em fluir?

Não. Não diga que não avisei, não pense, não reflita, se eu não corresse eles me alcançariam. Se eu não tivesse corrido não seria mais eu. Seria um, seria simples, simplista, seria um verso. Um mísero verso num livro revolucionário.

Mas eu não mais preciso das palavras. Ah, velhas e antiquadas palavras...

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